segunda-feira, 16 de junho de 2008

RECEITA "DI MOI DI REPOI NU AI I ÓI"

PUISIA MATUTA, MATUTA MESSS...


PUISIA MATUTA

(Anônimo)

"Ah!... dispois de tântu amô,
di tântu bêju gostôsu,
di tântu chêru cherôsu,
nóis briguemu...

Foi uma briga fatár
Ela disse: - Acabô
Eu disse: - Isso mermo.
acabô-si tudu!
I nóis fiquêmo mudo,
sem vontádi di falá,
i, na hora da partida,
nem siqué si oiêmo,
i nus xinguêmo,
cumu si podi xingá:
Aba de caruru!!!
Mandinga de sapo seco!!!
Eu dissi:
- Ôcê vai pru Norti
i eu pru Sur.

Nunca mais queru ti vê,
nem notíça queru tê,
ieu juro pur Deus,
nunca mais queru ti vê,
nem pintada di carvão,
du fundu du quintar...

Onti nóis si incontrêmo,
ninguém tentô disfarçá...
Parti pra riba dela,
Chêiu di fogo nu oiá,
i ela mim deu um arrocho
qui, si ieu fosse um cabra froxo,
tava aqui em dois pedaçu...

I aí, foi tantu bêju gostôsu,
qui nóis alembrêmo...
Cumu u Brasir é piquênu
num dá pra nus separá!



quinta-feira, 5 de junho de 2008

VIVA SÃO PEDRO - 29 DE JUNHO

São Pedro - 29 de junho

O guardião das portas do céu é também considerado o protetor das viúvas e dos pescadores. São Pedro foi um dos doze apóstolos e o dia 29 de junho foi dedicado a ele. Como o dia 29 também marca o encerramento das comemorações juninas, é nesse dia que há o roubo do mastro de São João, que só será devolvido no final de semana mais próximo. Mas como as comemorações juninas perduram alguns dias, as pessoas dizem que no dia de São Pedro já estão muito cansadas e não têm resistência para grandes folias, sendo os fogos e o pau-de-sebo as principais atrações da festa.

A fogueira de São Pedro tem forma triangular. Como São Pedro é cultuado como protetor das viúvas, são elas que organizam a festa desse dia, juntamente com os pescadores, que também fazem a sua homenagem a São Pedro realizando procissões marítimas.No dia 29 de junho todo homem que tiver Pedro ligado ao seu nome desse acender fogueiras nas portas de suas casas e, se alguém amarrar uma fita em uma pessoa de nome Pedro, este se vê na obrigação de dar um presente ou pagar uma bebida à pessoa que o amarrou.
Quadrilha

O pesquisador Mário de Andrade a define como "dança de salão, aos pares, de origem francesa, e que no Brasil passou a ser dançada também ao ar livre, nas festas do mês de junho, em louvor a São João, Santo Antônio e São Pedro. Os participantes obedecem às marcas ditadas por um organizador de dança. O acompanhante tradicional das quadrilhas é a sanfona" .
Créditos para: Fabíola Cassab

VIVA SÃO JOÃO - 24 DE JUNHO

São João - 24 de junho
Assim surgiu a Festa de São João Dizem que Santa Isabel era muito amiga de Nossa Senhora e, por isso, costumavam visitar-se. Uma tarde, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora e aproveitou para contar-lhe que, dentro de algum tempo, iria nascer seu filho, que se chamaria João Batista. Nossa Senhora, então, perguntou-lhe:- Como poderei saber do nascimento do garoto?- Acenderei uma fogueira bem grande; assim você de longe poderá vê-la e saberá que Joãozinho nasceu. Mandarei, também, erguer um mastro, com uma boneca sobre ele. Santa Isabel cumpriu a promessa. Um dia, Nossa Senhora viu, ao longe, uma fumacinha e depois umas chamas bem vermelhas. Dirigiu-se para a casa de Isabel e encontrou o menino João Batista, que mais tarde seria um dos santos mais importantes da religião católica. Isso se deu no dia vinte e quatro de junho.Começou, assim, a ser festejado São João com mastro, e fogueira e outras coisas bonitas como: foguetes, balões, danças, etc… E, por falar nisso, também gostaria de contar porque existem essas bombas para alegrar os festejos de São João.

Pois bem, antes de São João nascer, seu pai, São Zacarias, andava muito triste, porque não tinha um filhinho para brincar. Certa vez, apareceu-lhe um anjo de asas coloridas, todo iluminado por uma luz misteriosa e anunciou que Zacarias ia ser pai. A sua alegria foi tão grande que Zacarias perdeu a voz, emudeceu até o filho nascer. No dia do nascimento, mostraram-lhe o menino e perguntaram como desejava que se chamasse. Zacarias fez grande esforço e, por fim, conseguiu dizer:- João! Desse instante em diante, Zacarias voltou a falar. Todos ficaram alegres e foi um barulhão enorme. Eram vivas para todos os lados. Lá estava o velho Zacarias, olhando, orgulhoso, o filhinho lindo que tinha… Foi então que inventaram as bombinhas de fazer barulho, tão apreciadas pelas crianças, durante os festejos juninos.

Créditos para: Fabíola Cassab

VIVA SANTO ANTONIO - 13 DE JUNHO

Santo Antônio - 13 de junho

Entre os santos que mais são comemorados durante as festas juninas, Santo Antônio é com certeza o que mais possui devotos espalhados pelo Brasil e também por Portugal.
Esse santo, que normalmente é representado carregando o menino Jesus em seus braços, ficou realmente conhecido como "casamenteiro"e é sempre o mais invocado para auxiliar moças solteiras a encontrarem seus noivos.Em vários lugares do Brasil, há moças que chegam a realizar verdadeiras maldades com a imagem de Santo Antônio a fim de agilizarem seus pedidos.
Não são raras as jovens que colocam a imagem do santo de cabeça para baixo e dizem que só o colocam novamente na posição correta se lhes arrumar um namorado. Também separam-no do menino Jesus e prometem devolvê-lo depois de alcançarem o pedido. Na madrugada do dia 13 são realizadas diversas simpatias com este intuito. Mas não é só o título de casamenteiro que Santo Antônio carrega. Ele também é conhecido por ajudar as pessoas a encontrarem objetos perdidos.Padre Vieira, um jesuíta, definiu assim Santo Antônio em um sermão que realizou no Maranhão em 1663:"Se vos adoece o filho, Santo Antônio; se requereis o despacho, Santo Antônio; se perdeis a menor miudez de vossa casa, Santo Antônio; e, talvez, se quereis os bens alheios, Santo Antônio", disse Padre Vieira.Na tradição brasileira, o devoto de Santo Antônio gosta de ter sua imagem pequena para poder carregá-la. Por esse e tantos outros motivos que ele é considerado o "santo do milagres".Ainda com a tradição que são realizadas duas espécies de reza e festa em homenagem a Santo Antônio. A primeira delas, chamada "os responsos, é realizada quando o santo é invocado para achar coisas perdidas e a segunda, designada "trezena", é a cerimônia dedicada ao santo do dia 1 ao dia 13 de junho, com cânticos, fogos, comes e bebes e uma fogueira com o formato de um quadrado.Ainda há um outro costume que é muito praticado pela Igreja e pelos fiéis. Todo o dia 13 de junho, as igrejas distribuem aos pobres e afortunados os famosos pãezinhos de Santo Antônio. A tradição diz que o pãezinhos deve ser guardado dentro de uma lata de mantimento, para a garantia de que não faltará comida durante todo o ano.
de junhoOutro santo muito comemorado no mês de junho é São João. Esse santo é o responsável pelo título de "santo festeiro", por isso, no dia 24 de junho, dia do seu nascimento, as festas são recheadas de muita dança, em especial o forró.
No Nordeste do País, existem muitas festas em homenagem a São João, que também é conhecido como protetor dos casados e enfermos, principalmente no que se refere a dores de cabeça e de garganta.Alguns símbolos são conhecidos por remeterem ao nascimento de São João, como a fogueira, o mastro, os fogos, a capelinha, a palha e o manjericão.Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 são "para acordar São João". A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria à terra.As fogueiras dedicadas a esse santo têm forma de uma pirâmide com a base arredondada.O levantamento do mastro de São João se dá no anoitecer da véspera do dia 24.

O mastro, composto por uma madeira resistente, roliça, uniforme e lisa, carrega uma bandeira que pode ter dois formatos, em triângulo com a imagem dos três santos, São João, Santo Antônio e São Pedro; ou em forma de caixa, com apenas a figura de São João do carneirinho. A bandeira é colocada no topo do mastro.O responsável pelo mastro, que é chamado de "capitão" deve, juntamente com o "alferes da bandeira", responsável pela mesma, sair da véspera do dia em direção ao local onde será levantado o mastro.Contra a tradição que a bandeira deve ser colocada por uma criança que lembre as feições do santo.O levantamento é acompanhado pelos devotos e por um padre que realiza as orações e benze o mastro.Uma outra tradição muito comum é a lavagem do santo, que é feita por seu padrinho, pessoa que está pagando por alguma graça alcançada.A lavagem geralmente é feita à meia-noite da véspera do dia 24 em um rio, riacho, lagoa ou córrego. O padrinho recebe da madrinha a imagem do santo e lava-o com uma cuia, caneca ou concha. Depois da lavagem , o padrinho entrega a imagem à madrinha que a seca com uma toalha de linho.Durante a lavagem é comum lavar os pés, rosto e mãos dos santos com o intuito de proteção, porém, diz a tradição que se alguma pessoa olhar a imagem de São João refletida na água iluminada pelas velas da procissão, não estará vivo para a procissão do ano seguinte.
Créditos para: Fabíola Cassab

JUNHO, MÊS DE "FESTA JUNINA"


A origem da festa "Junina no Brasil" e suas influências


Junho é o mês de São João, Santo Antônio e São Pedro. Por isso, as festas que acontecem em todo o mês de junho são chamadas de "Festa Joanina", especialmente em homenagem a São João. O nome joanina teve origem, segundo alguns historiadores, nos países europeus católicos no século IV.
Quando chegou ao Brasil foi modificado para junina. Trazida pelos portugueses, logo foi incorporada aos costumes dos povos indígenas e negros. A influência brasileira na tradição da festa pode ser percebida na alimentação, quando foram introduzidos o aipim (mandioca), milho, jenipapo, o leite de coco e também nos costumes, como o forró, o boi-bumbá, a quadrilha e o tambor-de-crioula. Mas não foi somente a influência brasileira que permaneceu nas comemorações juninas. Os franceses, por exemplo, acrescentaram à quadrilha, passos e marcações inspirados na dança da nobreza européia.
Já os fogos de artifício, que tanto embelezam a festa, foram trazidos pelos chineses. A dança-de-fitas, bastante comum no sul do Brasil, é originária de Portugal e da Espanha. Para os católicos, a fogueira, que é maior símbolo das comemorações juninas, tem suas raízes em um trato feito pelas primas Isabel e Maria. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxílio após o parto, Isabel acendeu uma fogueira sobre o monte. No Nordeste do país, existe uma tradição que manda que os festeiros visitem em grupos todas as casas onde sejam bem-vindos levando alegria.
Os donos das casas, em contrapartida, mantêm uma mesa farta de bebidas e comidas típicas para servir os grupos. Os festeiros acreditam que o costume é uma maneira de integrar as pessoas da cidade. Essa tradição tem sido substituída por uma grande festa que reúne toda a comunidade em volta dos palcos onde prevalecem os estilos tradicionais e mecânicos do forró.

Créditos para : Fabíola Cassab

CULINARIA - CHOCONHAQUE


CHOCONHAQUE

Ingredientes:
500 g de açúcar cristal
100 g de cravo

1 litro de leite bem quente
4 colheres (de sopa) cheias de chocolate em pó
Meio copo (americano) de conhaque ou 1 copo (americano) de vinho
tinto doce.

Modo de preparo:

Em fogo alto, misturar o cravo e o açúcar. Com o açúcar dourado, pôr o leite e o chocolate em pó. Mexer até obter uma mistura homogênea. Acrescentar o conhaque ou o vinho. Misturar bem. Servir quente.

Créditos para esta receita: Maria da Conceição Ferreira,
de Itabirito: Contato (31) 3561-6628

CULINARIA - QUENTÃO CAIPIRA

QUENTÃO CAIPIRA

Ingredientes:
- 1 pedaço de gengibre pequeno
- 1½ xícara (chá) de açúcar
- Canela em pau a gosto
- 4 cravos
- 2 colheres (sopa) de mel
- Suco de 2 limões
- 1 litro de pinga

Modo de preparo:

Raspe e pique o gengibre em pedaços pequenos, coloque numa panela grande, junte 2 litros de água, o açúcar, a canela, os cravos, o mel e o suco de limão. Deixe ferver por 15 minutos em fogo alto. Retire e coe a mistura. Volte a calda parara a panela junto com a canela e despeje a pinga. Deixe ferver por mais 5 minutos. Sirva em seguida, mantendo o quentão sempre em local aquecido e em recipiente tampado. Se preferir um quentão mais fraco, reduza a quantidade de pinga.
Créditos para esta receita: VIOLA CAIPIRA (site)

UM "CAUSO" DI FUTIBOR DI ROÇA

Uma casião nóis foi jogá um jogo ficiar lá na serra, chegano lá a coisa garrô, deus di u cumeço, a num dá certo.
Puis, num é Qui tinha lá um fulano querenu de toda lei jogá.
Puis é! U timi tudu iscalado i u intruiz quereno intrá nu campo.
E o danado diz que era centararfo, mais gostava memo é de jogá de arfo esquerdo.
Vai di hora eis num dêxa.
Prá quê! É baxo! U homi virô um lião.
U homi ficô brabu divera.
Catô a garrucha i sento um tiro na bola!.
Aí fiquemo sem modo jogá.
Peleja daqui, pricura dalí... fumo arrumá uma bola no São Pedo, assim memo paguemu luguer.
Começô u jogo... vira mexe, nóis tinha que buscá a bola nu corgu, di tanto Qui eis dava chutão.
Eu cumo era ispertu, garrava prosiá cu golero deis i dexava eli disprivinido.
Ansinzinhu que a bola vinha, eu cascava um coice na bicha i marcava o gôrru.
Eis intão ficava morreno di reiva!
Vai di hora, um dêis, vêiu nimim, mó di pegá a bola.
Veiu, mais Veiu cus dois pé na artura do meu peitú, antão foi quandú eu saí fora i carquei u cutuvelu na viria dêli.
Eli sí rodopiô nu á e fucinhô nu chão.
Quá! U juize quando viu ele fucinhano nu chão e eu cá bola, inté gostô, soprô o apito e escramô:

-Levanta marmanjo, fou jogada normá.

Eu achi que o juize num gostava dei!
No finar, ganhemú i levemú u prêmiu Qui era uma leitôa e um garrafão de pinga de alambique e uma Quarta de fubá.
Dispois dêssi jogo de futibor, eu fiz até uma moda Qui proceis vô cantá:


Saracura é bichu dágua,
gavião du á,
u capeta num si sarva,
modi num sabê rezá;

Idi vera, justamenti tali quá,
ediceta pontú e virga,
reticença coisa e tá;

Nú leru leru,
eu tamem queru lerá,
vô falá no adjetivo,
e nu adverbiá."

DICIONÁRIO CAIPIRA - PEQUENO, PORÉM ÚTIL...



A

Abancar-se: sentar-se
Abênça: benção
Abestalhado: tolo, abobalhado.
Acavalado: disforme, grandalhão, avantajado
Acochar: rosquear
Aguacero: bastante água. (ex: “Não deu prá ir lá, tava o maior
--aguacero na estrada.”)
Amancebado: amigado, juntado
Antisdonte: antes de ontem
Aprontar: fazer sexo (ex: “Creuzodete embuchou porque
--aprontô com o noivo”)
Arreda: parecido com “sair” (ex: “Arreda prá lá, sô!”)
Atarracado: pequeno
Até na orêia: repleto, cheio, demais

B

Badacama: em baixo da cama
Bafafá: bate-boca.
Baita: grande, bonito
Balofo: gorducho.
Banzé: briga, encrenca
Bardeá: carregar
Batê perna: sair, passear
Belzonti: capital de Minas Gerais
Berrano: gritando
Bicha: lombriga
Bom dimás: muito bom
Bucho: barriga
Buquira: Monteiro Lobato

C
Cadeque: por que?
Campeá: procurar
Carcar: colocar alguma coisa a força
Carecer: precisar
Carniça: pessoa chata
Carpi: capinar
Casopô: caixa de isopor
Catá no pulo: apanhar no flagrante
Catiça: mau olhado, azar
Catombo: calombo, caroço
Caudisquê: por causa de quê
Chamego: namoro
Chique no urtimo: elegante, bem vestido
Chispá daqui: ir embora
Chorá Pitanga: lamuriar-se
Chuçar: cutucar
Coió: bobo
Confórfô eu vô: conforme for, eu vou
Cosca: cócega


D

Dendapia: dentro da pia
Denduforno: dentro do forno
Descochar: desrosquear
Desembestiá: desgovernar-se, sair correndo
Desenxavido: sem graça, feio, velho, desajeitado
Desmilinguido: deteriorado, mau aspecto
Deu: de mim (ex :larga deu, sô !)
Diação: judiação
Dó: pena, compaixão (ex: Ai qui dó, gentch...!!!)
Dôdestombago - dor de estômago
Doidimais: doido demais
Donconvim: de onde que eu vim?

E

Embadapia: debaixo da pia
Embuchar: engravidar
Emburrar: fazer coisa de burro.
Émezzz: é mesmo?
Empacota: morrer
Emperiquitado: enfeitado.
Emprenhar: engravidar
Encher lingüiça: enrrolar
Enxotá: mandar embora
Esgueio: de lado, de raspão
Espia: ver
Espinhela caída: dor, problema na coluna
Estaçã:estação

F

Festa: participar de festa
Fidumaégua: diz-se ao caboclo que não se comporta bem
Finiquito: tremeliques
Fiote de cruiz credo: muito feio
Forfé: confusão
Fuçar: vasculhar
Futricar: fazer fofoca
Fuzarca: folia

G

Gaiato: engraçado
Gandaia: depravação
Garro: pegou, começou, realizou

I

Impreita: contrato de uma obra
Impricar: cisma
Incuado: resistente
Inhaca: mau cheiro
Inté: até
Intorná: derramar
Iscândelo: escândalo
Iscodidente: escova de dentes

J

Jabiraca: mulher valente
Jacá: cesto de palha ou taquara
Jizdifora: Juiz de Fora
Jururu: triste, quieto

K

Kidicarne: quilo de carne, quinze kidicarne = uma @
Kinem: igual

L

Lambuja: vantagem
Leva-e-traz: fofoqueiro
Levo os corno – complicou tudo
Lida: trabalho
Lidileite: Litro de leite
Lograr: mentir
Lonjura: distancia
Lundum: mau cheiro

M

Magrélin: muito magro
Malemá: mais ou menos
Manjado: muito conhecido
Mastumate: massa de tomate
Messs: mesmo
Micage: fazer imitação de alguém
Minerin: habitante das Minas Gerais
Moafo: coisa velha
Mondé: armadilha para pegar preá, peba e tatu.

N

Negócin: qualquer coisa que o mineiro acha pequeno
Némêss: não é mesmo
Nimim: o mesmo que “em mim”
Nossinhora: Nossa Senhora
Num émemo: não é mesmo
Num: não

O

Obrar – defecar
Óiaí: olha aí
Óiaqui: chamar a atenção para alguma coisa
Óiprocesvê: olha para vocês verem!
Oncotô: onde que eu estou?
Onquié: onde que é?
Óprocevê: olha pra você ver!
Oreia: pessoa burra
Ostrudia: outro dia

P

Pão di queijo: cumida fundamentar na mezz mineira
Paraiso: Paraisópolis
Parêa: comparar
Parelha: par de cavalos ou mulas
Parrudo: forte
Penico: urinol
Pereba: pequena ferida
Perrengue: deteriorado
Picá mula: fugir
Picica: azar
Pincumel: pinga com
Pindaíba: sem dinheiro
Pingaiada: bêbado
Pito: cachimbo
Pondiôns: ponto de ônibus
Ponhá reparo: reparar
Ponhar: colocar
Pópôpó: mineirinha ajudando ao marido fazer café
Pópôpoquin: resposta afirmativa do marido
Por essa luz que me lomea: dizer que está falando sério
Posar: passar a noite
Prestenção: quando eu tô falano mais cê num tá ouvino
Procêis: para vocês
Proseá: conversar

Q

Quá!: expressão de espanto, indignação
Quainahora: quase na hora
Que, que esse? – o que é isso
Quebranto: doença de menino
Qui belezura: quando gostou de alguma coisa
Quin: denominação carinhosa de Joaquim
Quiném: advérbio de comparação, igual
Quizila: aversão

R

Rapelô: levou tudo, ganhou tudo
Refestela: sorrir, rir
Regatear: pechinchar
Reinar: bagunçar
Relar: encostar
Remedar: imitar com a voz
Ridico: pão-duro
RidiJanero: Rio de Janeiro

S

Sacudido: pessoa ativa ou de porte
Santana: Sapucaí Mirim
Sapassado: sábado passado
Sapeá: intrometer-se
Sapecado: bêbado
Saracoteá: provocar
Sartei de banda: tô fora, não concordo, não quero mais
Secetembro: dia da independência do Brasil
Sô: fim de quarqué frase
Songamonga: bobalhona
Sono picado: dormir mal
Sucedeu: aconteceu
SumPaulo: São Paulo
Sustança: força, vigor

T

Tá de chico: está menstruada
Tá té no chifre: embriagado, bêbado
Tapado: sujeito grosso, idiota
Tarbaté: Taubaté
Tidiguerra: tiro-de-guerra
Tirisdaí: tira isso dai
Tradaporta: atrás da porta
Trem: qualquer coisa (ex: Lavô us trem? Comi uns trem. Vamo tomar uns trem?)
Tresnoite: noite mal dormida.
Trosso: é quiném Trem
Tutu: Mistura de farín di mandioca cum feijão massadím e uns temperin lá da horta.
Bão dimais da conta !

U

Uai: "Uai é uai,...uai !"
Urucubaca: azar, mal olhado

V

Varge: pé de morro
Varginha: terra dus ET
Veneta: impulso repentino
Vento encanado: corrente de ar
Vidiperfume: vidro de perfume

Z
zambeta: trôpego
Zôio: olho
Zonzo: atordoado

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AS "FRASI" MAIS FALADA PELO CAIPIRA.


"Cê falô, uai...."
"Só o pó'
"Num tem procê não"
"Quero caí dura e seca pra traiz'
"Bestera poca é bobage"
"Drumino na nota"
"Gostei, Gostei"
"Me aguarde..."
"Boa, Boa..."
"É baxo"
"Quá..."
"Tá no sar"
"Num é bem assim..."
"Tá, Tá, Tá, Tá...."
"Sartei fora"
"Voooooorta"
"Queta moço!"
"Sigura pião"
"Arrupia cauboi"
"Caba não mundão"
"Ocê discompara"
"Passa a régua"
"Passa a mão na escova"
"Tô nessa"
"Tá cua nhaça"
"O trem mastigado de gato"
"Pião tem Qui ralá"
"Ô mãe larga sô"
"Vem ni mim muié!!!"
"Ó que largura ó"
"Jóóóóóóiiiaaaaa!"
"E a véia"
"Ah cê vai"
"A minha vingança será maligna"
"Mata o véio"
"Vamo tomá uma dúra"
"Manda vim a caidera"
"Mais o papo tá bão..."
"Ai, aiaiaiai "
"Só quem tá ca coisa é Qui sabe"
"Vô caí no gabirova"
"Vô muntá no porco"
"O Sô, tô apertado"
"O trem doido sô"
"Quem faiz o Qui qué, Guenta o Qui vié"
"Dibuia"
"Esse é eu"
"Nois sofre, mais nois goza"
"A vida é boa, mais nois que avacaia"
"O trem bão".

DIVIRTA-SE COM PIADAS CAIPIRAS...

O GALO VELHO


O caipira resolve trocar o seu galo por outro
que desse conta das inúmeras galinhas. Ao chegar o
novo galo e, percebendo que perderia suas funções, o
velho galo foi conversar com seu substituto:

- Olha, sei que já estou velho e é por isso que meu
dono o trouxe aqui, mas será que você poderia deixar
pelo menos duas galinhas para mim?

- Que é isso, velhote?! Vou ficar com todas.

- Mas só duas... Ainda insistiu o galo.

- Não. Já disse! São todas minhas!

- Então vamos fazer o seguinte: Propõe o galo velho. -
Apostamos uma corrida em volta do galinheiro. Se eu
ganhar, fico com pelo menos duas galinhas. Se eu
perder, são todas suas.

O galo jovem mede o galo velho de cima abaixo e
pensa que certamente ele não será capaz de vencê-lo:

- Tudo bem, velhote, eu aceito.

- Já que realmente minhas chances são poucas, deixe-me
ficar a vinte passos a frente - Pediu o galo velho.

O mais jovem pensou por uns instantes e aceitou as
condições do galo velho.

Iniciada a corrida, o galo jovem dispara para
alcançar o outro galo. O galo velho faz um esforço
danado para manter a vantagem, mas rapidamente
está sendo alcançado pelo mais jovem.

No momento em que o mais velho ia ser alcançado
pelo mais novo, o caipira pega sua espingarda e
atira sem piedade no galo jovem. Guardando a arma,
comenta com a mulher:

- Num tô intendendo, uai! É o quinto galo viado que
a gente compra esta semana.

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BRIGA DE GALO


O caipira ganhava todas as apostas das brigas de galos daquele vilarejo, quando um sujeito da cidade, cansado de perder, chega para ele e pergunta:

- Meu amigo, vejo que o senhor é um grande entendido em brigas de galos.

- É... - responde timidamente o caipira.

- Pois eu já perdi quase todo meu dinheiro e não acertei uma aposta. O senhor pode me ajudar a dizer qual é o galo bom da próxima luta?

- O bom é o galo branco - responde o caipira.

O sujeito da cidade, rapidamente, aposta todo o resto do seu dinheiro no galo. Quando acaba a luta, ao ver o galo branco derrotado, ele vai novamente até o caipira:

- Você não me disse que o galo branco é que era o bom?

- Uai, o galo branco era bom... o preto é que era marvado!

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TOMADA...


O caipira entra numa loja de material para construção e pede:
- Ei, moço... cê tem aí uma tomada?
- Você quer uma tomada macho ou fêmea? - pergunta o balconista.
- Sei não, seu moço! Eu queria uma tomada pra acender a luz e não pra fazer criação!

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CAIPIRAS NA CIDADE...

O casal de caipiras velhinhos resolve finalmente deixar o torrão natal para visitar a capital.
Eles estão num shopping e assistem a um desfile de modas para apresentação da coleção de maiôs e
biquines de uma grife. Vendo esse espetáculo, o marido fica com os olhos literalmente arregalados.
A mulher passa-lhe um sermão:
- Ei Tião, parece inté que ocê nunca viu perna e peito de mulher antes!
O caipira responde:
- Sabe que eu tava pensando a mesma coisa, muié...

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MELHORES E PIORES...


Dois caipiras estão conversando, quando um pergunta:
- Cê sabe me dizê quais são as melhor coisa do mundo?
- Boi na invernada, cerveja gelada e mulher pelada!
- E as trêis pior?
- Boi doente, cerveja quente e mulher da gente!

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CAIPIRA, A VERDADEIRA MÚSICA DE RAIZ


I - INTRODUÇÃO


Iniciaremos com algumas considerações de caráter geral, que permitirão o entendimento do movimento musical do interior, como um todo.


O movimento rural é uma forma de manifestação cultural baseada em usos e costumes populares e regionais, retratando a vida e o pensamento da população do campo e/ou do interior do país. Tal manifestação cultural não sofreu, em suas bases, influências outras que não a dos habitantes da terra descoberta e de seu colonizador/povoador. Assim, a música da terra, como toda manifestação artística, surgiu de uma necessidade da sociedade rural de expressar através de canções, suas venturas e desventuras, alegrias e tristezas, prazeres e dores. Lógico que os temas estão vinculados à sua realidade de vida, seus modos e costumes, bem como a seus princípios éticos, religiosos e morais. Dentro desta ótica, podemos afirmar que suas raízes são genuinamente nacionais e sua proximidade ao country americano se dá, exatamente, por estas razões, pois lá como aqui, o movimento está intimamente ligado a terra e a regionalismos, resultantes da caminhada em direção ao interior, em busca de melhores condições de vida, e porque não dizer, de riqueza. De qualquer forma, quem se aventurou, em passado longínquo, pelas terras virgens do Brasil e por aqui se estabeleceu, acabou sendo responsável pela formação de uma cultura própria, típica e regional.


Quem soube, muito bem, retratar este modo de vida, associado à natureza, foi o poeta Castro Alves. Daí, vale mais à pena transcrever o poema do que continuar tentando explicar.


Castro Alves


Crepúsculo Sertanejo


A tarde morria! Nas águas barrentas

As sombras das margens deitavam-se longas;

Na esguia atalaia das árvores secas

Ouvia-se um triste chorar de arapongas.

A tarde morria! Dos ramos, das lascas,

Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos,

As trevas rasteiras com o ventre por terra

Saíam, quais negros, cruéis leopardos.

A tarde morria! Mais funda nas águas

Lavava-se a galha do escuro ingazeiro...

Ao fresco arrepio dos ventos cortantes

Em músico estalo rangia o coqueiro.

Sussurro profundo! Marulho gigante!

Tal vez um silêncio!... Tal vez uma orquestra...

Da folha, do cálix, das asas, do inseto ...

Do átomo à estrêla... do verme - à floresta!...

As garças metiam o bico vermelho

Por baixo das asas - da brisa ao açoite;

E a terra na vaga de azul do infinito

Cobria a cabeça co'as penas da noite!

Somente por vezes, dos jungles das bordas

Dos golfos enormes daquela paragem,

Erguia a cabeça surpreso, inquieto,

Coberto de limos - um touro selvagem.

Então as marrecas, em torno boiando,

O vôo encurvavam medrosas, à toa...

E o tímido bando pedindo outras praias

Passava gritando por sobre a canoa!...


II - AS ORIGENS DA MÚSICA


Voltando no tempo, podemos deduzir, pelas informações históricas registradas, que a música tenha surgido no meio rural, provavelmente em época próxima ao ano 2000 AC, entre os chineses ou os hindus. Independentemente disto, tudo indica que foram os egípcios que elevaram a música ao status de "popular", difundindo-a entre o meio rural, a partir de dedicações a deidades vinculadas às boas safras agrícolas. Desta forma, a arte musical egípcia influenciou outras culturas, responsáveis pelo processo de civilização mundial e, como o campo veio antes da cidade, esta era uma música rural.


Coube aos gregos desenvolver o movimento de racionalização da arte musical, criando, inclusive o termo mousike (de Musas, as 9 filhas de Zeus, responsáveis pelas artes). Anteriormente, ao que parece e se tem notícia, a música era transmitida de forma direta, sem registro específico. Foi a partir da Grécia que se pôde construir a história da cultura contemporânea. Através dos poetas ("aquele que faz"), que punham a música a serviço das palavras, pode-se depreender que sua divulgação tenha ganhado notoriedade pública. Da mesma forma, a conjugação da música, poesia e dança tinham em comum um ponto: o ritmo (rhytmós - movimento regrado e medido).


E assim foi-se passando a história, até que, às vésperas dos grandes descobrimentos, a música já era uma manifestação cultural urbana, posto que ao camponês (a quem cabia servir ao senhor, principalmente em épocas de guerras), não era dado o conhecimento da existência de uma harmonia musical acadêmica e de instrumentos musicais, poesia e danças criadas entre as paredes dos palácios. Porém, no campo, as danças típicas, a poesia, o teatro e a música (com sua forma exclusiva), eram valores culturais difundidos, com utilização de instrumentos, peculiaridades e escala próprias.


Como, a essa altura, já entramos no período histórico dos grandes...


III AS ORIGENS DA MÚSICA RURAL BRASILEIRA


O Brasil do descobrimento tinha, ao que se supunha, uma população indígena de cerca de dois milhões de habitantes, com os quais teriam os descobridores de se defrontar, no processo de povoação ou colonização (discussão infindável). O certo é que, de uma ou de outra forma, a exploração das riquezas da terra estava na mente dos descobridores, visto que sua civilização vivia do comércio e, para tanto, a convivência com os silvícolas se impunha. Até mesmo porque, para o estabelecimento de uma economia de subsistência era necessário envolvê-los e aos seus relativos conhecimentos de plantio. Assim, deste relacionamento, surgiram técnicas comuns de formação de lavoura, desenvolvimento de engenhos e fazendas, voltadas, além da subsistência, para a exportação.


Na manifestação musical, apesar da influência do colonizador, marcou presença a cultura indígena, através dos urucapés, guaús, parinaterans e tocandiras, de origem guaicuru, xavante, guarani ou bororo. Segundo a história, Anchieta, o Apóstolo do Brasil, teria se valido de uma dança religiosa indígena, o caateretê, para tentar convertê-los ao cristianismo. Teria, ainda, introduzido esta dança nas festas de Santa Cruz, Espírito Santo, Conceição e Gonçalo, num hábito que até hoje persiste nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Pará e Amazonas, sob a nomenclatura de catira, cujos elementos rítmicos da viola, do sapateado e do palmeado, lhe foram indexados ao longo dos anos. Sendo cantado em versos, o caateretê propiciava o surgimento de cantores e trovadores populares.


Quando os portugueses e negros proporcionaram o surgimento de outras manifestações musicais oriundas de suas próprias culturas, já existiam por aqui gêneros resultantes do cruzamento cultural português-índio. Os primeiros índios, com os quais os portugueses travaram conhecimento foram os tupis, que se espalhavam, com suas oito famílias e dezenas de línguas e dialetos, do Rio Grande do Sul ao seu homônimo do Norte. Assim, desde o século XVI, os herdeiros deste tipo de cruzamento étnico, mestiço de brancos e índias, apesar das controvérsias, pode ser definido como caboclo (ou cabocolo, como se dizia na época). E esta controvertida figura, descrita como indolente e pouco relacionado com os colonos, ganhou esta pejorativa conceituação, que não condiz com a realidade.


Já na segunda metade do século XIX, calcula-se que existissem no Brasil menos de 150.000 índios puros, deduzindo-se que o restante, ou foi exterminado pelo colonizador/povoador ou se hajam misturado ao branco e ao negro, ensejando uma nova espécie humana culturalmente distinta. Desta miscigenação surgiram grupos distintos, sendo que entre os caboclos concentrados nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, inúmeros traços de semelhança física e cultural são notáveis, generalizando o que se convencionou chamar de caipira, uma denominação tipicamente paulista. Para muitos filólogos, caipira é expressão de etimologia desconhecida, porém, segundo Silveira Bueno, o vocábulo é resultado da contração das palavras tupis caa (mato) e pir (que corta), resultando em "cortador de mato". Para Câmara Cascudo, caipira é o "homem ou mulher que não mora na povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público". Inquestionavelmente, este é um tipo rural, caboclo, mas no sentido pejorativo, depreciativo. Assim também se posicionou Monteiro Lobato ao criar seu personagem Jeca Tatu. Como o que nos interessa não são os estereótipos e sim a origem da música rural, achamos que basta o que já foi dito, para situar o ilustre visitante deste site no ambiente rural, fonte de nossa música de raiz.


Em muitas citações do século passado, sobre o interior do Brasil, comentava-se sobre diversos tipos de festas musicais típicas, bem como sobre manifestações musicais associadas aos condutores de boiadas ou tropeiros. Essas cantigas e desafios, sempre em tom de alegria, consistiam em interpelações de um boiadeiro para outro e eram uma derivação de dois gêneros tipicamente portugueses. A cantiga (do latim canticula – cançãozinha), remonta ao século XIII, com acompanhamento de instrumento de cordas, chamado no século XVIII de "poesia cantada", formada de redondilhas ou de versos menores que estas, dividida em estrofes iguais, com andamento melancólico e concentrado. O desafio, sempre representou em Portugal, um gênero musical baseado no canto de improviso e alternativo, com outras pessoas provocando o desafiante, até que se proclamasse o vencedor. Este tipo de arte, muito divulgado entre nós, caindo no agrado popular, acabou se alastrando pelo país, de norte a sul.


Já no século passado, muitos narradores testemunharam várias formas de gêneros musicas oriundos do campo. Assim são as descrições sobre as "vésperas de São Pedro", quando todos que possuíam um Pedro na família se sentiam na obrigação de acender uma fogueira diante da porta e soltar rojões, disparar pistolas, morteiros ou mosquetes. Tratava-se, também, de uma manifestação adaptada da tradição portuguesa, acompanhada de acordeona (harmônica – sanfona), viola (caipira, com certeza) e machete (antecessor de nosso cavaquinho). À dança cantada dava-se o nome de cururu (ou caruru), cujo acompanhamento instrumental se fazia através de uma viola e de um pandeiro basco. Esta manifestação ainda existe em alguns locais no interior de Mato Grosso, Goiás e São Paulo e é uma espécie de desafio, com a diferença que o provocador fica de fora, instigando os contendores ao litígio, até que saia um vencedor. Vê-se, pois, que mesmo modificadas e adaptadas por vezes às tradições indígenas ou caboclas, a influência portuguesa era notável.


No início do século XX, a literatura sobre o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país começa a mencionar danças como o recortado (derivado do cateretê), o fandango (de origem ibérica e com várias coreografias) e a toada (forma livre de cantiga, ligada à pura forma musical e não à disposição poética). Era a força da música rural, criativa, evolutiva, diversificada, contrapondo-se aos modismos musicais das capitais, sempre importados do exterior, principalmente...


IV - OS INSTRUMENTOS MUSICAIS


Foi de suma importância a participação de instrumentos musicais portugueses na criação da música rural brasileira, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Destacamos aqui a CONCERTINA (espécie de harmônica ou sanfona), a GUITARRA e a VIOLA. Os índios, pelo que se tem notícia, sempre deram preferência a instrumentos de sopro para musicar seus ritmos. Porém, maravilharam-se com o som da viola portuguesa, fazendo dela surgir o que mais tarde se conheceu como viola caipira.


A sanfona, como curiosidade, teve maior influência e participação na música sertaneja nordestina e a viola na música caipira do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, onde a moda de viola, oriunda das modas portuguesas da segunda metade do século XVIII, tinha como característica principal o canto a duas vozes, tão marcante hoje na música rural brasileira.


V - O INÍCIO DA DIVULGAÇÃO


Cidade e campo: duas economias diversas e interdependentes. Nem o homem do campo pode prescindir das modernidades industriais, nem o homem da cidade pode prescindir da lavoura e criação. Se existem motivos para considerar entristecedora a situação das populações urbanas (saneamento deficiente, habitações insuficientes e de qualidade inferior, dificuldade de empregos, violência, drogas, etc.), também no campo, salvo exceções, os métodos ainda são primitivos. Porém, o homem do campo na Brasil soube sobreviver às custas de sua própria resistência física, preso a um sentimento enraizado de amor à terra, sem nunca ter renunciado às suas tradições. E são essas tradições, como a linguagem própria, o vestuário típico e as tendências culturais, que contribuem decisivamente para a criação de uma espécie de música inconfundível. E é desse tipo de música que estamos falando. Não devemos confundir música rural com música - digamos assim -"brega". Esta última é o resultado do aproveitamento de dois filões (sem que haja obrigatoriedade de misturá-los) de manifestação musical tradicional (a música rural e a música internacional, entendida em toda a sua extensa variedade) e se destina, primordialmente, a satisfazer às exigências, gostos, anseios (ou o nome que se queira dar) das populações carentes, que habitam a periferia das cidades. E poder-se-ia travar um embate filosófico interminável sobre a questão. Não é este nosso intuito. Queremos falar daquele outro tipo de música, que guarda profunda relação com a tradição que a gerou: a música rural, ou música caipira. E passaremos a tratar do assunto, com o foco no século XX.


Já deixamos claro, anteriormente, que a música rural abrange vasta extensão territorial, pois assim é o Brasil, e que ela pode ser entendida delimitando-se sua área de ocupação. Desta forma, vamos limitar este resumo à música rural que envolve, principalmente, os estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. E, mais ainda, centraremos nosso foco no estado de São Paulo.


A partir de São Paulo e seu interior, em especial, definiu-se o tipo característico denominado "caipira", espécie de caboclo diferente dos oriundos das regiões norte e nordeste. Na própria capital, no início deste século, pouco se sabia sobre este personagem interiorano, além de algumas facetas mais características, desconhecendo-se suas danças, músicas e poesias típicas.


Foi Cornélio Pires (1884 - 1958), natural de Tietê, o primeiro a mostrar interesse em divulgar o caipira e sua criatividade autêntica, na capital. Em 1910, encenou na Universidade Mackenzie um velório típico do interior paulista. A encenação incluía interpretes autênticos de cururu e cateretê, além de cantadores e dançadores. A apresentação foi um sucesso e abriu espaço para outras, que se seguiram, graças a obstinação de Cornélio. E assim, quatro anos mais tarde, proferiu diversas palestras na capital, sobre a matéria, acompanhado de exemplos vivos desta arte desconhecida, mostrando o que já se espalhava por outras regiões além das fronteiras do estado, caracterizando, enfim, uma música e uma poesia paulistas, diferente de tudo o que se criava na capital, que, na verdade, nada mais fazia do que absorver o que vinha do Rio de Janeiro e, em última instância, da Europa, passando por aquele importante centro cultural.


Em 1922, realizaram-se no Rio de Janeiro as festividades de comemoração do primeiro centenário da Independência do Brasil e entre tantas atividades programadas, Cornélio foi escalado para promover diversas manifestações da cultura caipira, sendo-lhe reservado espaço seleto para apresentação de suas palestras e exibições. Foi, no mínimo, curioso que se lhe reservasse o auditório da Associação Brasileira de Imprensa para tal, demonstrando o interesse que seu conhecimento sobre este tipo de cultura tinha alcançado. E suas apresentações, com muitas novidades e curiosas revelações, alcançaram êxito surpreendente, neste ano em que se realizou a tão lembrada Semana de Arte Moderna. Foi a oportunidade que o Rio de Janeiro teve, de conhecer o que séculos de aculturação índio-portuguesa produziram no interior de São Paulo.


VI - A MÚSICA E SEU REGISTRO EM DISCO


Até 1928, percebe-se a ausência, praticamente total de música caipira nos catálogos das gravadoras. Tudo fruto de uma intolerância urbana, existente nas grandes capitais, em relação à música caipira. Por esse motivo, somente em 1937, o clássico do século da música rural, Tristezas do Jeca, foi gravado por Paraguassu, com o selo Columbia (Continental, a partir de 1947), mesmo tendo sido composta por Angelino de Oliveira, em 1925. Existiam, à época, tres gravadoras no Brasil: Odeon, Victor e Columbia (esta em São Paulo).


Colocada a dificuldade, abre-se o espaço para um curioso e importante depoimento, extraído, na íntegra, do livro "Capitão Furtado - Viola Caipira ou Sertaneja?", de J. L. Ferrete, publicado pela FUNARTE em 1985, que dá bem a idéia de como a música caipira iniciou sua trajetória no mundo fonográfico, pelas mãos de Cornélio Pires:


Estando em São Paulo, onde também se encontrava instalada a sede de uma das três mencionadas gravadoras - a Columbia, representação local da Byington & Company -, Cornélio Pires não teve escolha senão optar pela que lhe propiciava maior proximidade.


Por incrível que pareça, no entanto, ninguém falava português inteligível na Columbia da Byington & Company. O diretor era americano - Wallace Downey - e só com ele se tratava negócios em fase preliminar. Cornélio soube que seu sobrinho Ariovaldo já estava no terceiro mês de aulas de inglês e decidiu valer-se dele como possível intérprete. "Dá pra você descalçar as botas?" perguntou-lhe, nesse sentido atual da "dá pra você quebrar o galho?". Ariovaldo respondeu-lhe: "Olha, quem não arrisca não petisca, eu vou até lá. Se der pra me entender com o homem, muito bem! Se não der, a vergonha maior é dele, que está aqui em nossa terra e não entende o que a gente quer com muito esforço chegar a expressar".


Chegava ao fim o ano de 1928 quando isto ocorreu. E a conversa entre Ariovaldo e Wallace Downey deu certo. Iria, aliás, resultar em algo mais importante no destino do futuro Capitão Furtado, mas este já é um assunto para as próximas linhas.


Downey encaminhou Cornélio Pires ao proprietário da empresa, Byington Jr.. Este, para não fugir à regra geral do preconceito quanto ao ‘não-artístico’, rejeitou a proposta de Cornélio Pires para que gravassem discos com material caipira autêntico em seu selo. "Não há mercado para isso, não interessa". Cornélio insistiu: "E se eu gravar por conta própria?" Aí Byington Jr. tentou opor dificuldades: "Bem, nesse caso você teria que comprar mil discos. Quero dinheiro à vista, nada de cheque, e se o pagamento não for feito hoje mesmo, nada feito". Era uma forma, nota-se, de descarte peremptório ou, em outras palavras, propostas de quem não quer mesmo fazer negócio.


Ariovaldo Pires jamais pressentiu nessa atitude de Byington Jr. qualquer intenção malevolente. Ao contrário: "Byington gostava muito de meu tio - esclarecia ele - e só queria evitar-lhe prejuízos na certeza de um empreendimento (ou investimento) malsucedido , Essa foi, na verdade, a intenção".


Cornélio Pires fez com Byington Jr. o cálculo de quanto custariam mil discos e saiu. Foi à procura de um amigo na rua Quinze de Novembro (centro de São Paulo), um tal de Castro, e pediu-lhe dinheiro emprestado. Retornou logo em seguida à sede da empresa e, entrando na sala de Byington Jr., jogou sobre a mesa deste um grande pacote emaçado em jornal. "O que é issso?", perguntou-lhe Byington espantado. "Uai, dinheiro! Você não queria dinheiro?", respondeu Cornélio. Byington abriu o pacote e não disfarçou seu assombro: "Mas aqui tem muito dinheiro!". "É que, ao invés de mil discos, eu quero cinco mil", explicou Cornélio Pires.


Meio aturdido, Byington Jr. tentou convencê-lo de que cinco mil discos era muita coisa, era "uma loucura". Naquele tempo não se faziam prensagens iniciais em tais quantidades nem para artistas famosos! Cornélio, porém, foi mais além no espanto em que deixou o dono da gravadora: "Cinco mil de cada, porque já no primeiro suplemento vou querer cinco discos diferentes. Então, são 25 mil discos".


Deixando de lado a perplexidade e encolhendo os ombros, Byington Jr. mandou chamar alguns funcionários e pôs-se a contar o dinheiro. Passado o recibo, Cornélio Pires entrou sem rodeios no assunto: "Bem, agora eu é que vou fazer minhas imposições. Quero uma série só minha. Vou querer uma cor diferente: o selo vai ser vermelho. E cada disco vai custar dois mil réis mais que seus sucessos. Mais ainda: você não vai vender meus discos, só eu poderei faze-lo". Byington Jr. deu uma ligeira risada, como que querendo dizer: "Mas, também, quem é que vai querer comprar seus discos?!". E partiu-se para a produção e prensagem. Os discos ficariam prontos mais ou menos por volta de maio de 1929 - no cálculo de Ariovaldo Pires. Como ele passou a ser empregado da Byington & Company (conforme veremos a seguir) nessa época, "mas só foi registrado alguns meses mais tarde, em 7 de agosto de 1929", acredita que o mês de lançamento tenha sido maio.


A série particular de Cornélio Pires (pioneira, ademais, no campo do hoje chamado disco independente ou alternativo) iria sair do jeito que tinha sido combinado: numeração identificável diferente (começando de 20.000, enquanto a Columbia propriamente dita seguia a série 5.000) e selo vermelho (ou "cor de vinho", como prefere José Ramos Tinhorão). O selo, não obstante, conservava a marca Columbia com todas as características particulares dessa etiqueta, fazendo presumir que Byington Jr. não tenha aberto mão da prerrogativa de evidenciar o fabricante. Os cinco discos iniciais da série, além disso, estavam divididos entre o humorístico e o "folk-lórico" (sic), tendo apenas Cornélio na interpretação.


desastre comercial que Byington Jr. esperava não ocorreu. Ao contrário: Cornélio Pires saiu em dois carros na direção de Bauru, fazendo do automóvel de trás uma verdadeira discoteca, tendo por intenção, antes, parar em Jaú. Ao chegar a esta cidade, todavia, já tinha vendido os 25.000 discos que transportava consigo! Teve de telegrafar para Byington e pedir-lhe uma nova prensagem a ser distribuída em Bauru.


A notícia da existência dos discos caipiras de Cornélio Pires no interior do estado alvoroçou o interior paulista, de Jundiaí a Assis, de Sorocaba a São José do Rio Preto. Todos queriam essas gravações, mesmo com preço dois mil réis mais alto. O próprio Byington Jr. reconheceu que havia errado em seus prognósticos e, desenxabido, propôs ao patrocinador da série que sua empresa distribuísse os discos. Muitas lojas da capital os estavam reclamando insistentemente e havia gente que tentava comprá-los na fábrica. "Tio Cornélio era mais idealista que comerciante", contou-nos Ariovaldo. "Após a primeira coleção de cinco discos, autorizou a distribuição destes e dos demais por Byington".


Mais adiante, Cornélio Pires produziria outros 43 discos para sua série (que terminaria em meados de 1930 no número 20.047), não só fazendo uso de artistas amadores ou já profissionais do interior - por exemplo: Sebastião Arruda, Mariano e Caçula, Arlindo Santana, Paraguassu (escondido por trás do pseudônimo de Maracajá), Raul Torres (disfarçado como Bico Doce), Zé Messias e Luizinho -, como também revelando, entre outros, um gênero tipicamente caipira só conhecido em seu habitat: a moda de viola.


Instaurava-se no Brasil, deste modo, a era do disco caipira. Velhos tabus caíram por terra e antigas barreiras preconceituosas vinham abaixo, ao menos por enquamto. Mas, 1929 foi apenas o começo de alguma coisa que se plantava artisticamente, em especial a partir do interior das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. Havia muito a ser feito e o caminho a percorrer irar se mostrar longo.


VII - O RÁDIO NA DIVULGAÇÃO DA MÚSICA RURAL


Em 1924, de acordo com alguns depoimentos, surge em São Paulo a SQ-B1, Rádio Cruzeiro do Sul. Pouco depois desaparece para ressurgir em 1927, com novo prefixo: SQ-BA. Novo fracasso. Somente em 1929, através do grupo Byington (leia-se: Columbia), sob direção de Wallace Downey, a Cruzeiro do Sul se firma, alicerçada em esquema inédito até então: o patrocínio da Atlantic Motor Oil, que custeou as curtas demonstrações do período de experiência da emissora. Assim, após breve período de testes, ainda no primeiro semestre de 1929, a Cruzeiro do Sul, agora PR-AO (e pouco depois PR-B6), vai ao ar com sua programação definitiva. E assim, com sua homônima do Rio de Janeiro, é criada a primeira rede radiofônica do Brasil: a rede Verde-Amarela.


No dia de sua inauguração, além de diversos espetáculos, entre eles apresentações humorísticas com personagens caipiras, foi interpretada a música "Coração", de Marcelo Tupinambá com letra de Ariovaldo Pires.


Nesta época, São Paulo contava, então, com três emissoras de rádio: a Cruzeiro do Sul, a Record e a Educadora (mais tarde, Gazeta). Elas, juntamente com os teatros e circos, transformariam centenas de intérpretes musicais, que se apresentavam em bares, os chamados "cafés-chantants", em artistas do microfone; mudança que se perpetuou e evoluiu até os nossos dias. Assim, na esteira dessa tendência, seguiram os compositores, músicos e instrumentistas, que através deste tipo de divulgação, associado à evolução das gravações em disco, se tornariam populares: nasciam os ídolos!


Contudo, na florescente capital de São Paulo, a arte popular caipira se mantinha encoberta pelo manto "sertanejo" ou "regional". E esta estilizada forma de apresentar a música rural, por vezes atribuía ao interprete o direito da composição, tomando o lugar do verdadeiro autor. Afinal, a imagem divulgada do caipira era de um ser indolente, ignorante, especialista em fazer os outros rirem, jamais capaz de elaborar peças musicais esmeradas. Contra esta imagem pejorativa, vários cidadãos se insurgiram, abrindo espaço nas gravadoras e nas rádios para intérpretes de música caipira. Assim, emergiram Zico Dias e Ferrinho, Lourenço e Olegário, Lázaro e Machado, Plínio Ferraz e João Michalany, Arlindo Santana e Joaquim, além dos indefectíveis imitadores urbanos do "regionalismo". Foi nessa época que surgiram, também, os primeiros programas humorísticos repletos de quadros típicos, como "Cascatinha do Genaro", na rádio Cruzeiro do Sul e mais tarde transferido para a Rádio São Paulo (1935), uma espécie precursora do "Balança Mas Não Cai". Esses programas, repletos de caricaturas e modismos, eram um verdadeiro redemoinho de estilos e tendências.


Desde então, surgiram diversos intérpretes, todos incumbidos de consagrar este estilo de música que, como já dissemos, teve sua origem em séculos de evolução cultural havida no campo, no meio rural e que, por força da tecnologia existente nos grandes centros urbanos, pôde ter expandido seus limites. Assim, abria-se oportunidade para muitos artistas e, também, para muitos aproveitadores (mas isto é um outro assunto). O importante é que com o disco e o rádio, descortinou-se um infinito leque de oportunidades para a divulgação da música rural que, graças à perseverança de alguns "heróis", pôde ganhar espaço dentro das várias manifestações culturais que compõem a multivariedade cultural brasileira.


VIII - ALGUNS DOS VERDADEIROS DESBRAVADORES


Achamos que é chegado o momento de "dar - mais - nome aos bois", por isso, aqui citaremos aqueles que, a nosso ver, representaram com lealdade o estilo, a cultura e a musicalidade do interior. Porém, para evitar que este resumo, já por demais extenso, se torne infindável, relacionaremos apenas seus nomes, omitindo suas obras (que pode ser assunto para outro trabalho), bem como, antecipadamente, pedimos desculpas pelos possíveis esquecimentos:


Alvarenga e Ranchinho

Raul Torres

Antenógenes Silva

Zico Dias e Ferrinho

Lourenço e Olegário

Mandy e Sorocabinha

Mariano e Caçula

Laureano e Soares

Palmeira e Piraci

Tonico e Tinoco

Orlando Silveira (acordeonista)

Mario Zan (acordeonista)

Nenete e Dorinho

Irmãs Galvão

Moreno e Moreninho

Cascatinha e Inhana

Inezita Barroso

Paraguassu

Laureano e Mariano

Mariano e Cobrinha

Lourenço e Lourival

Duo Glacial

Tião Carreiro e Pardinho

Duo Ciriema

Irmãs Castro

Xerém e Tapuia

Xerém e Bentinho

Ramoncito Gomes

Belmonte e Amaraí

Tibagi e Amaraí

Tibagi e Miltinho

Abel e Caim

Os Três Xirus

Cerejinha

Norinho e Ediles Nunes

Os Maragatos

Os Araganos

Conjunto Farroupilha

Craveiro e Cravinho

Cambuci e Cambuizinho

Biá e Dino Franco

Nhô Nardo e Cunha Jr.

Borges e Borginho

Trio Norte-a-Sul

Dairé e Coleirinha

Lázaro e Machado

Plínio Ferraz e João Michalany

Arlindo Santana e Joaquim

Trio Ortega

Milionário e José Rico


IX - RESUMO DO RESUMO (OU "E AGORA?" OU, SIMPLESMENTE, "CONCLUSÃO") - baseado na obra de J. L. Ferrete "Capitão Furtado - Viola Caipira ou Sertaneja?"


Quando a música caipira apareceu em discos no Brasil, não existiam profissionais neste campo. Na música urbana, alguns intérpretes faziam sucesso, como Francisco Alves e Vicente Celestino, entre os mais conhecidos. Caipira, no entanto, nem poderia pensar em ganhar a vida com sua arte, que aliás não era considerada arte.


Dentre os primeiros intérpretes, todos revelados apenas por curiosidade, haviam trabalhadores da lavoura (Mariano, Caçula e Ferrinho, Bastiãozinho), um motorista (Zico Dias), um artesão rural (Arlindo Santana) e até um cocheiro com ponto no Jardim da Luz em São Paulo (Raul Torres).


De originalidade todos eles tinham uma coisa em comum: cantavam coisas diferentes do que se ouvia na cidade e sua pronúncia não tinha nada a ver com o dialeto português que a gente culta falava, com nomes e palavras estranhas, diminutivos e outros apelidos que intrigam, até hoje, os estudiosos.


A realidade é que essa arte interiorana viveu escondida por muito tempo, só vindo a ganhar status profissional a partir dos anos 60, com roupagem adequada aos shows urbanos, deturpações e adaptações ao modernismo. E aí a polêmica é imensa, com defensores da modernização de um lado e críticos à descaracterização do gênero, de outro. O fato é que, nos idos de 1929, as gravadoras disputavam com empenho os poucos intérpretes existentes e hoje há que se proceder uma muito bem feita seleção, sob pena de encontrarmos um caipira com sotaque de gringo, tamanha é a oferta de artistas do pseudo gênero. Naquela época, na ausência de intérpretes, gravava-se música caipira instrumental, quase sempre com sanfoneiros, coisa inconcebível nos dias de hoje.


Com a vinda para as cidades de grande parte da população rural (mais de 60%), em busca de melhores condições de vida, a coisa se complicou de vez. Que rumos tomará a música rural?; por que transformações passará?; aonde vai chegar?; são perguntas que não nos arriscamos responder. Deixamos para a história...


"A verdade, e isso é irrefutável, é que temos no Brasil regiões distintas de manifestação cultural, numa desigualdade que, todavia, encontra pontos em comum bem definidos. Por exemplo: a sanfona. Ela sempre foi elemento característico em todas as regiões brasileiras, vulgarizada que se tornou pelos portugueses em trezentos anos de predomínio cultural. Certos tipos de viola, também de origem lusitana, assinalam sonoridades de norte a sul do país em forma homogênea, demonstrando unidade em certos aspectos da desigualdade e coesão na identidade nacional. O caipira do Sul, por exemplo, fala diferente e canta diferente do sertanejo do Nordeste, mas, entre ambos, sempre haverá elementos instrumentais comuns, pois sua formação cultural nunca sofreu impedimentos de barreira alfandegária e tampouco inibições de ordem regional" (J.L. Ferrete).


"Conclusão: a música popular regional de norte a sul, em nosso país, constitui uma única entidade, nesse conceito metabólico de que atende a todos sem parecer de ninguém" (J.L. Ferrete).


Ora, sabemos que os tempos mudaram e que, muito provavelmente, nada escapa a essa mudança, inclusive a música caipira ou rural. O comercialismo se impôs e não lhe sobrou outra possibilidade de sobrevivência que não a de se adaptar aos novos tempos, onde a influência urbana exige uma transformação que lhe dê um perfil mundano e polivalente. Assim, desde quando as Irmãs Castro, no período da II Guerra Mundial, introduziram em seu repertório música "caipira" de outros países, como as mexicanas e paraguaias, Bob Nelson, adotou modismos americanos de cantigas country e Cascatinha e Inhana imortalizaram uma versão da guarânia "India", algo estava mudando. E essa mudança passou a ser apreciada por uma multidão que, sem preferência pelo segmento tradicional urbano do samba, da vertente sofisticada do jazz e do balanço americanizado e internacionalizado do rock, adotou o "sertanejo" como principal manifestação cultural musical.


Certo é que a música rural brasileira passou por uma reformulação geral, trocando o velho chapéu de palha pelos vistosos chapéus de feltro e pêlo, e a falta de dentes foi substituída por um rosto limpo ou de grandes bigodes ou barbas hirsutas. Até óculos escuros tornaram os cantores mais sofisticados. E a mudança trouxe em seu bojo, evidentemente, uma grande quantidade de aproveitadores e viajantes, dispostos a fazer fortuna, sem compromisso algum com as raízes.


Como é impossível lutar contra os novos ventos, cabe-nos, por justiça, ressaltar que ainda existem artistas sinceros e autenticamente ligados às origens. Deus lhes dê forças para perpetuar esse gênero musical que, repetimos, está intimamente vinculado àquilo que melhor representa o sentimento de nacionalidade: a terra.


Ficamos por aqui, com a certeza que não esgotamos o assunto mas, quem sabe, abrimos espaço para novas narrativas.


AGRADECIMENTOS


Não foi fácil elaborar este resumo, pois sabemos que no Brasil as coisas da terra se perdem no tempo e no espaço. O que fizemos, com grande esforço, mesmo pouco representando no universo globalizado em que vivemos, foi dar nossa parcela de contribuição, baseado nas inestimáveis narrativas de verdadeiros garimpeiros do assunto. Na verdade realizamos este trabalho com prazer indescritível e sentimo-nos recompensados pelo simples fato de o havermos feito. Esperamos que possa ser útil, despertando, pelo menos, sua atenção ou curiosidade. E, como já dissemos antes, pode ser uma porta aberta a novas contribuições, dentro da proposta básica da Internet, de disponibilizar informação ao seu público, gratuitamente. Estamos a disposição para acatar colaborações e sugestões, na busca da melhoria permanente.


Agradecemos a FUNARTE (por preservar nossas manifestações artísticas e culturais) - Ministério da Cultura, a J.L. Ferrete (cuja feliz lembrança de colocar no papel a história de nossa música rural, possibilitou nosso trabalho) e a todas as fontes de pesquisa utilizadas.

Obrigado!!!



O crédito desta matéria, é do amigo Britto, que faz curso na área de gastronomia, do Centro de Formação Profissional de Ribeirão Preto. Obrigado amigo Britto.